sexta-feira, 25 de março de 2016

A política das cores e os radicais-de-centro.

Posturas políticas radicais têm levado o partidarismo ao mundo das cores.

Pessoas têm sido constrangidas e até agredidas na rua por usarem o vermelho, a cor que identifica o PT (Partido dos Trabalhadores), no contexto da indignação social com os escândalos de corrupção que vieram à tona com a Operação Lava Jato.

O  uso de uma camiseta vermelha, a posse de uma bicicleta vermelha ou mesmo a direção de um carro vermelho podem ser motivos para a abordagem por um desconhecido na rua, que irá - sem constrangimento - questionar a filiação partidária do cidadão. Ainda não soube de ninguém que tenha sido acusado de ser petista por estar comendo uma macarronada com molho ao sugo. Mas não é impossível de acontecer.

Se o PSDB - cujas cores são o azul e o amarelo - estivesse na posição do PT (os partidos políticos não são encarnações do "bem" e do "mal" e, ora estão "por cima", ora estão "por baixo" no "jogo político"), teríamos duas cores a evitar, o que teria efeitos práticos como tornar a escolha da roupa para sair ainda mais difícil do que está atualmente.

Por trás da guerra de cores talvez esteja uma forma um forma rude e disfarçada de "discutir" (haja aspas aqui) política. Afinal, se levássemos a sério o assunto da perseguição às cores, não só teríamos que excluir os tomates e as bananas de nossa dieta como, no extremo, deveríamos ignorar que nosso sangue é vermelho ou amaldiçoar o céu azul.

Um mundo "sem cores" seria a solução ideal? A resposta é negativa e se baseia nas distopias que mostram sociedades totalitárias no futuro: o pretinho básico ou o cinza discreto imperam na roupa de todos (como se o preto e o cinza não fossem cores...) e nem por isso a vida é uma maravilha.

Quando o espaço público de debate é invadido e ocupado por hordas ideológicas bárbaras (venham elas do "norte" ou do "sul", da "esquerda" ou da "direita"), é hora dos radicais de centro resistirem, empunhando em mãos as boas e surradas bandeiras da ponderação inclusiva entre as diversas visões partidárias (parciais) existentes no diálogo público.

As pessoas com posicionamento político de centro são, de um modo geral, perseguidas por serem "sem identidade" e por "ficarem em cima do muro". Por isso a ideologia radical de centro vem para afirmar a autencidade dos propósitos de quem não detém certeiras respostas para tudo: As pessoas que reconhecem nossas carências atuais para a tomada de decisões efetivas face aos desafiantes problemas públicos.

Um radical de centro (poderíamos chamá-lo de um "inclusivista") é tão autêntico quanto um partidário sectário. Aliás, se diferenciam dos sectários (que são mais semelhantes entre si do que gostariam) porque suas opiniões são mais matizadas, suas soluções mais aparentemente mais complexas e suas declarações mais ponderadas. São radicais da ponderação e por isso:

(1) Não buscam a exclusão dos que pensam diferente;

(2) Não destroem o espaço de debate público, constrangendo tanto os demais sectários quanto os que desejam um debate equilibrado;

(3) Não lutam pela vitória na disputa do poder político e sim para alcançar um entendimento comum mínimo que permita a construção do diálogo público.

Nós radicais de centro não estamos sós na tentativa de defesa da ágora (dos espaço comum aberto às diferenças). Autores como (BAUMAN: 2000. p. 99) também reconheceram a importância da tarefa:

"Os ideólogos e as ideologias ajudam a tendência totalitária a galgar as escadas do poder. Os ideólogos são os mais notáveis e vociferantes habitantes da ágora moderna, esse espaço social onde as preocupações privadas lutam para se erigir em questões públicas e em que os pronunciamentos  dos detentores do poder ou dos que pretendem sê-lo se esforçam em apresentar-se como soluções coletivas para problemas particulares.”

Em oposição radical às demais ideologias radicais, fica registrado esse 1o Manifesto colorido (viva a Diversidade!) dos radicais de centro.

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